Primeiramente, respeito a todos quanto ao seu credo religioso. Não pretendo de forma alguma ofender a fé de quem quer que seja. Com este texto quero o convidar à reflexão, que gera vida, não à rebelião, que gera morte.
"E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho?"
Mateus 7:3
Se há uma coisa que nos faz reagir muito a qualquer crítica, é constatar que ela vem de alguém que está cometendo o mesmo que nós. Essa reação normalmente é expressa, muito apropriadamente, com aqueles famosos ditados populares: "Olha o sujo falando do mal-lavado!" ou "Aí o bacon falando do toucinho". Quem está com o argueiro no olho (a vítima da crítica) normalmente percebe mais rápido que seu acusador tem uma trave em seu próprio olho. Mas o olho que tem a trave tem muita dificuldade em se enxergar, e ver que padece do mesmo cisco que condena.
Isso pode acontecer entre irmãos, como relata o texto, entre estranhos, e até mesmo entre grupos sociais ou religiosos. E aí, entra onde quero chegar: a crítica religiosa. Para delimitar mais o tema, por se tratar de um blog cristão, vou abordar um caso de "bacon falando de toucinho" me referindo às duas maiores divisões religiosas do Corpo de Cristo (sua Igreja): a católica romana e a protestante (evangélica).
Em alguns aspectos, a religião protestante se diferencia da católica apostólica romana. Contudo, em muito de sua essência, herdou princípios que, a despeito dos séculos de existência e da diversidade de doutrinas e denominações, permanecem perenes. Mas isso não é suficiente para que haja plena harmonia entre as duas, visto os conflitos existentes até as gerações mais recentes, e as fronteiras filosóficas fortemente patrulhadas que as separam.
Um dos alvos da crítica dos protestantes (ou evangélicos) em relação à religião católica romana é a afirmação do papa Pio IX que vigora até hoje de forma dogmática: "não há salvação fora da igreja católica apostólica romana".
Em suas críticas, como uma instituição de diversas facetas doutrinárias, os evangélicos se referem a essa afirmação como uma verdadeira heresia, não admitindo uma instituição religiosa declarar-se o supra-sumo da vontade de Deus na terra. Todos enchem o peito e dizem ser Cristo o caminho para a salvação, não a religião católica.
Na prática, os olhos dos evangélicos tem uma trave enorme quanto essa crítica! Eu posso escrever “de carteirinha”, por ter frequentado regularmente templos protestantes desde minha infância. Nos templos de Lutero há um pensamento similar ao católico, só que não é expresso com a mesma sinceridade. Pensam ter a divina missão de "pregar o evangelho" aos católicos, para desgarrá-los de seus erros e de sua suposta cegueira, como se dentro de seus templos evangélicos não existissem doentes nem cegos. Por quantas vezes ouvi pedidos de oração para que um parente católico se convertesse ao “evangelho” e fosse "salvo"! Eu mesmo fui ensinado pela religião a pedir pela conversão de parentes católicos e, por muitos anos o fiz. Hoje vejo que só enxuguei gelo, orei pra quê? Hoje reconheço, e considero-os mais cristãos do que eu em muitos aspectos. Mais dignos de Cristo do que eu, pela vida que vivem, quando olho pra mim mesmo. O senso geral dos evangélicos é o mesmo: só há salvação em Jesus.... mas só se for evangélico! Consideram isso um pré-requisito para que Jesus salve alguém. Funciona como um processo. Primeiro passo: aceitar um convite de ir ao templo. Segundo, ir até o templo. Terceiro: ouvir o "louvor" e a "palavra" e “aceitar a Jesus”. “Que alegria, os anjos do céu estão em festa neste momento, pois um pecador se converteu!!!” Pronto, agora é só ele se matricular na classe de "novos convertidos" na escola bíblica dominical, se batizar e entender que precisa ser “fiel a Deus” nos dízimos e nas ofertas! Aí está mais uma alma “ganha” pelos evangélicos para Jesus. Depois tem ainda mais um estágio: ser "batizado com o Espírito Santo, com línguas de fogo!"...Parece mais uma "fórmula do bolo", uma grade curricular, que pode em muitos casos nada ter a ver com vida, com humanidade, com Corpo de Cristo. Se acaso isso tudo for instrumento para converter alguém para Cristo, quem sou eu para questionar a Graça de Deus? Mas se for para tentar converter alguém que já é de Cristo, o máximo que vai acontecer é uma conversão... religiosa.
Irmão, convido você a se desarmar desse pensamento. Seja evangélico, católico, ortodoxo, fundamentalista, adventista, ou de qualquer outra divisão institucionalizada da Igreja de Cristo (perdoe-me se não citei a sua). Não chame Cristo de único Caminho da boca pra fora. Ore ou reze para que as pessoas se convertam à PESSOA de Jesus, não a uma organização religiosa. Viva de acordo com esse pensamento, olhando para outra divisão religiosa cristã como apenas mais uma religião, com suas convicções e imperfeições (por vezes menores que as da sua própria). Sabemos que o Caminho é Cristo! Então não só saiba disso, mas também pense e caia na real: religião é questão de gosto, uns preferem bacon, outros, toucinho.
Se todos pensarmos assim, podemos continuar frequentando a divisão religiosa que mais atende à nossa crença, nossa maneira de pensar, mas sem deixar a comunhão com os membros do Corpo que estão debaixo de outros desenhos de vitrais ou se ajoelham diante de outras formas de cruzes. Tenho certeza que no céu, muitos se surpreenderão ao verem salvos de diversas nações, línguas, etnias, sem qualquer formação religiosa dessa ou daquela religião, mas que resolveram simplesmente seguir, crer e viver o Caminho!
Termino o texto com uma frase de Rupertus Meldenius: “No que for essencial, unidade. No que não for, liberdade, e em tudo, caridade.”